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Burn-on, Burn-out e FOMO: Como manter o equilíbrio na vida profissional?

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Apesar da crescente consciência sobre a importância da saúde mental, muitos trabalhadores ainda enfrentam barreiras para buscar ajuda. Segundo o Capita, 24% dos trabalhadores já precisaram se afastar por estresse, mas menos da metade desses afastamentos foram registrados como relacionados à saúde mental. Além disso, 37% dos respondentes admitiram não se sentir confortáveis em compartilhar com colegas ou com a empresa que o afastamento foi motivado por questões de saúde mental. Esse estigma pode impedir que os colaboradores busquem o suporte necessário, agravando os problemas de saúde mental.

Entre os transtornos psicológicos que mais afetam os trabalhadores, a ansiedade é a principal causa de afastamento, afetando 51% dos colaboradores. Em seguida, vêm a depressão (17%), o estresse (16%) e a síndrome de Burn-out (14%), conforme revelado durante o Congresso Nacional de Gestão de Pessoas (Conarh). Estes dados evidenciam a necessidade de estratégias de gestão e suporte específicas para cada tipo de transtorno, com o objetivo de reduzir o impacto sobre a saúde mental e a produtividade.

Pensando a importância do tema, a Legal Sensory Design convidou a Maria Virgínia Nunes, psicóloga clínica e doutora em Saúde Coletiva, para um bate-papo sobre Burn-on, Burn-out, FOMO e como manter o equilíbrio na vida profissional. 

Antes de tudo, O que é Burn-on?

De acordo com o South China Morning Post, o burn-on funciona como uma depressão mascarada, a síndrome é caracterizada por um estado contínuo de exaustão e estresse crônico. Enquanto pessoas com burn-out precisam tirar licença médica do trabalho, quem tem burn-on não tem esse momento de pausa para recuperar. As pessoas estão sempre à beira de um colapso, mas seguem em frente e cultivam, por trás de um sorriso, um tipo diferente de exaustão e depressão. 

Quais são os sinais precoces de burn-in que podemos observar no dia a dia de trabalho? De que maneira podemos nos distanciar do burn-on?

“O burn-on não está ligado à insatisfação com o trabalho, mas é uma consequência do estresse causado por ele, mesmo quando a pessoa está satisfeita e feliz com o que faz. Esse fenômeno pode ser compreendido através da relação entre o desejo e a produtividade, que estão entrelaçados nas dinâmicas sociais e organizacionais. No burn-on, a pressão intensa para manter-se produtivo e atender a metas sempre maiores transforma o trabalho em uma exigência constante. A busca incessante por realização profissional pode dominar a vida da pessoa, invadindo sua esfera pessoal e criando uma sensação de sobrecarga emocional, ansiedade e cansaço mental, que dificulta o relaxamento e o descanso adequado.

Vivemos em uma sociedade que cobra cada vez mais desempenho e produtividade, gerando cansaço e esgotamento excessivos que incapacitam o indivíduo para realizar atividades do dia a dia. Em nossa sociedade, somos muitas vezes pautados pelo desempenho e isso exige um sujeito que está sempre preocupado em ser obediente e em seguir metas muitas vezes inalcançáveis, sem se permitir repouso ou descanso. Esse indivíduo acaba produzindo uma relação desgastada consigo mesmo, e suas interações com o mundo externo se tornam precárias.

Neste contexto, é crucial reconhecer que a lógica de produtividade incessante pode aprisionar o indivíduo em um ciclo de esgotamento. Para evitar o burn-on, é essencial estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal, resistir à lógica da produtividade contínua e valorizar momentos de pausa, relaxamento e autocuidado. Empresas e indivíduos devem promover uma cultura de saúde mental coletiva, onde o descanso e a desconexão sejam vistos como essenciais para o bem-estar, e não como uma perda de produtividade. Cultivar hábitos que permitam a desconexão, como atividades relaxantes e tempo para lazer fora do trabalho, é fundamental para manter um equilíbrio saudável e evitar o esgotamento. Devemos refletir sobre o impacto de uma vida repleta de tarefas e vazia de sentido e buscar formas de afirmar a vida, produzindo novos valores que permitam escapar da lógica de esvaziamento e esgotamento.”, afirma Virgínia.

E agora, o que é Burn-out?

De acordo com o Ministério da Saúde, também conhecido como Síndrome do Esgotamento Profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.

Quais são os passos que um profissional deve seguir ao identificar que está entrando em um estado de burnout?

“Identificar o início de um estado de burnout envolve reconhecer como o desejo e a produção estão moldando seu estado emocional e mental. O burn-out resulta da dinâmica em que o desejo é moldado por exigências externas, e é essencial refletir sobre como suas metas e expectativas são impostas. Pergunte-se se suas ações são guiadas por um desejo autêntico ou se são moldadas pela necessidade de atender a padrões externos.

O próximo passo é desconstruir e reavaliar suas metas e expectativas, questionando se são realmente suas ou se foram internalizadas devido à pressão externa. Reconfigurar suas relações e ambientes de trabalho para torná-los menos opressivos e estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal é crucial. Criar redes de apoio que não se baseiem apenas na produtividade e buscar um ambiente que permita maior liberdade e expressão são formas de reduzir a pressão e aumentar a autenticidade.

Implementar práticas de desconexão e autocuidado é essencial para restabelecer um equilíbrio saudável entre desejo e produção. Valorizando atividades que promovam o bem-estar pessoal e garantindo tempo para relaxamento, você pode encontrar novas formas de realização e satisfação fora das demandas do trabalho. Além disso, o cuidado pessoal é fundamental para evitar o ressentimento e o esgotamento emocional, contribuindo para uma relação mais equilibrada com o trabalho e a vida pessoal.”, conclui Virgínia.

Mas afinal… O que é FOMO?

Fear Of Missing Out, traduzido por “medo de ficar de fora”, é caracterizado pelo desejo de permanecer continuamente conectado com o que os outros estão fazendo. Ela também é associada a uma série de experiências e sentimentos negativos da vida por ser considerada um apego problemático às redes sociais, criando percepções distorcidas de vidas editadas, de acordo com a World Journal of Clinical Cases em 2021.

De que forma as empresas podem criar uma cultura que minimize o impacto da FOMO entre seus colaboradores? 

“A FOMO pode ser entendida como um reflexo das exigências da nossa sociedade, que impõe uma constante pressão para estar sempre conectado e atualizado. Essa pressão é vista como parte de um sistema que maximiza o desempenho e a produtividade, aprisionando o indivíduo em um ciclo interminável de desejo e consumo. Essa dinâmica transforma o desejo em uma força que não apenas impulsiona a produção, mas também cria uma sensação de insatisfação contínua, pois nunca se atinge plenamente o que se deseja.

A FOMO, portanto, é vista como um produto dessa lógica de produtividade e controle, onde o indivíduo é compelido a participar constantemente de um fluxo de informações e demandas, gerando estresse e sobrecarga emocional. Esse estado é muitas vezes associado a uma perda de autenticidade e individualidade, já que a identidade e o valor do indivíduo são cada vez mais definidos por sua capacidade de atender às expectativas externas e de estar sempre presente.

Para reduzir o impacto da FOMO é necessário adotar práticas que desafiem e desestabilizem essa lógica de produtividade incessante, criando e respeitando limites claros entre o trabalho e a vida pessoal; buscando formas alternativas de realização e prazer que não estejam subordinadas às demandas profissionais; cultivando conexões significativas e apoiadoras pode ajudar a reduzir a sensação de inadequação e de estar perdendo algo, pois as relações genuínas oferecem um suporte emocional que não está condicionado ao desempenho ou à produtividade.”, finaliza Virgínia.

Cuide de você e do seu time!

Diante dos desafios impostos pelo Burn-on, Burn-out e FOMO, é fundamental que empresas e colaboradores repensem suas abordagens para manter o equilíbrio na vida profissional. O cenário atual exige que a saúde mental seja tratada como uma prioridade, e não como uma questão secundária ou tabu

A busca por um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal é um processo contínuo e dinâmico. A jornada para cuidar de si mesmo e do time é um compromisso coletivo, onde cada passo na direção certa contribui para um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e humano. Ao promover a saúde mental e o bem-estar no ambiente de trabalho, estamos cuidando dos colaboradores e garantindo um futuro mais saudável nas organizações.

A Legal Sensory Design agradece as contribuições primordiais da profissional Maria Virginia Nunes nessa conversa. 

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