Pular para o conteúdo
Início » Blog » Saúde mental na advocacia: o problema é de quem?

Saúde mental na advocacia: o problema é de quem?

  • por

Por Carolina Mata e Yasmin Gomes

Nos últimos tempos, um tema que tem tido grande reconhecimento e é uma das doenças da atualidade é o burnout. Uma coisa é certa: não foi fácil para ninguém passar pelo Covid-19, trabalhar e estudar ao mesmo tempo.

A síndrome do burnout é caracterizada por um desgaste extremo causado pelo excesso de trabalho e do ambiente de pressão. Além disso, a vivência em um local com uma cultura de trabalho exigente pode desencadear outras doenças como depressão, alcoolismo, ansiedade e síndrome do pânico.

Mas como os profissionais de direito podem cuidar melhor da sua saúde mental e dos que estão à sua volta? Confira neste artigo alguns dados e informações relevantes para você e sua equipe de trabalho.

UM OLHAR PARA A ADVOCACIA 

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) possui um projeto desde 2018 com a intenção de chamar a atenção para doenças que acometem os advogados e advogadas no Brasil, divulgando materiais informativos.

A última cartilha escrita no ano passado contou com a participação da startup de inovação e gestão em saúde, Bee Touch, cujo objetivo é a especialização no rastreamento digital de saúde mental e nos riscos psicossociais no trabalho.

Os dados do projeto demonstraram que as doenças que mais estão presentes no meio da advocacia são: a síndrome do burnout, com esgotamento físico e mental; transtorno de ansiedade generalizada; transtornos de pânico e depressão. 

A cartilha trabalha com diversos tipos de transtornos mentais e como identificar cada um, além das condições psicológicas, como o estresse, que pode acabar desenvolvendo para uma síndrome mais grave.

Cuidado com a glamourização do workaholic! Com a pressão dos prazos, processos e de produtividade, os advogados esquecem de se desligar do trabalho e aproveitar o seu momento de descanso.

É SOBRE ISSO… E NÃO, NÃO ESTÁ TUDO BEM

A Bee Touch possui uma parceria com algumas seccionais da OAB e alguns dados foram levantados durante o estudo.

No estado do Mato Grosso do Sul, os resultados obtidos, por meio do monitoramento digital da saúde mental de mais de 900 participantes, revelaram que 63% sentiram um cansaço extremo, 60% irritabilidade e 29% taquicardia.

Enquanto no estado vizinho, Mato Grosso, 47% dos profissionais apresentaram ansiedade, 33% sintomas de depressão e 31% relataram utilizar antidepressivos e ansiolíticos.

Já no Piauí, 19% dos profissionais apresentaram algum tipo de diagnóstico de saúde mental, com destaque para a síndrome do burnout ou do pânico, além de transtornos de ansiedade, como a depressão.

Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o burnout, em janeiro deste ano, como uma doença ocupacional e também houve a inclusão dessa síndrome na nova Classificação Internacional de Doenças (CID – 11). 

Os dados mapeados são extremamente preocupantes e indicam um problema cultural e estrutural no nicho da advocacia. Com os resultados da pesquisa, a plataforma CAASPsico, criada pela startup Bee Touch, consegue mapear os riscos de saúde mental e fornecer ajuda por meio do apoio psicológico momentâneo ou até mesmo continuado para os profissionais da advocacia. O serviço é prestado por psicólogos credenciados no Conselho Federal de Psicologia (CFP) e com valores acessíveis. 

PREOCUPAÇÃO MUNDO AFORA

A American Bar Association (ABA) e faculdades no exterior incluíram em suas programações de treinamento e de graduação/pós-graduação a inteligência emocional

É importante lembrar que se tornar um profissional vai além de desenvolver as hard skills, que são conhecidas como as habilidades técnicas, observando também a necessidade de abrir um espaço para as soft skills que acabam sendo esquecidas no mundo do direito.

As soft skills são conhecidas como as habilidades de relacionamento interpessoal, criatividade, empatia, liderança, pensamento crítico, colaboração, inteligência emocional e a capacidade de aprender coisas novas.

Para isso, as pessoas advogadas devem trabalhar por meio da autoconsciência, autorregulação emocional, automotivação, expressão emocional e empatia. Ao utilizar habilidades como essas, os profissionais do direito podem aumentar as suas capacidades de soluções de problemas, de compreensão e conexão com os clientes e colaboradores, bem como maior aceitação e autoconfiança gerando um bem estar e níveis menores de estresse.

O SUCESSO, A “GRANDE RENÚNCIA” E OS ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA 

Muito mais complexo do que salas de relaxamento, essa é também uma questão histórica e cultural. Como sociedade, é importante a reavaliação do conceito de sucesso. Estar sempre ocupado, não ter tempo nem para comer, noites mal dormidas… por muitos anos essa foi a visão de um profissional de sucesso. “Fulano trabalha tanto que não tem tempo para nada!” – e as pessoas enxergavam isso como dedicação, eficiência e o retrato de um profissional bem sucedido.

Porém nós vivemos uma transição. Estamos começando a superar uma pandemia que fez todas as pessoas do mundo reavaliarem seus valores. Empresas saíram correndo para readaptar seus espaços físicos, como já abordamos neste artigo, e pessoas de todo mundo redefiniram suas prioridades.

Na prática, os novos conceitos de felicidade e sucesso se refletem no movimento social identificado como a “grande renúncia”. Esse fenômeno ficou conhecido em razão dos desligamentos voluntários. Só em março, nos Estados Unidos, cerca de 4,5 milhões de norte-americanos saíram ou trocaram de emprego. Já no Brasil, nesse mesmo mês, foram mais de 600 mil trabalhadores que se demitiram. 

O movimento da sociedade foi tão intenso que já foi até registrado pelo mundo artístico. A cantora Beyoncé com a sua música “Break My Soul” gerou um impacto com o seu hit e logo começaram a surgir os vídeos de pessoas pedindo para saírem de seus empregos. 

Na letra, a artista deixa claro que cansou de um trabalho exaustivo e, por isso, vai procurar outro caminho. A mensagem não é para que as pessoas busquem a demissão e sim para que encontrem a libertação naquilo que as satisfazem. No mesmo caminho, em redes sociais, como o TikTok, há diversos vídeos circulando sobre quiting my job com a mencionada música no fundo.

Confira mais sobre o assunto aqui.

Os escritórios de advocacia enfrentam tardiamente o desafio de se adequarem ao novo mundo, enquanto o universo corporativo, em grande parte, já está caminhando para atender a valorização da sociedade atual à saúde mental e qualidade de vida.

Há ações que visam a promoção de uma cultura de saúde mental com o objetivo de garantir uma melhor qualidade de vida aos colaboradores e que melhoram os resultados individuais e coletivos do ambiente de trabalho, como:

  • avaliações periódicas de clima organizacional;
  • implementação e fomento ao uso de um canal de denúncias para identificação de comportamentos de risco e abusivos;
  • monitoramento das jornadas de trabalho, para que não sejam excessivas;
  • incentivo às pausas e/ou disponibilização de espaços de relaxamento e descanso;
  • oferecimento de treinamentos, capacitações e materiais educativos explicando os riscos e proteção à saúde mental;
  • programas de saúde mental com assistência à advocacia;
  • mapeamento sistemático dos indicadores de saúde e dos fatores psicossociais do trabalho;
  • subsídio para eventuais tratamentos;
  • divulgação de aplicativos que atuam como orientadores para a saúde mental, como autogerenciamento de emoções, mindfulness e outros.

Falar sobre saúde mental, riscos e prevenção deveria ser uma regra para todas as empresas e principalmente para as organizações jurídicas. Afinal, profissionais de direito trabalham lidando com a vida de outras pessoas, então por que negligenciar a sua própria? 

UM PASSO DE CADA VEZ

Começar a observar o sentimento de que algo não está certo é o primeiro sinal, pois o ato de não procurar ajuda quando está claro que não está tudo indo bem, pode levar a um desgaste psicológico com grandes proporções.

Aqui estão algumas informações de redes de apoio para consulta:

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza um trabalho que consiste no apoio emocional e prevenção do suicídio por meio de atendimentos voluntários e gratuitos para todas as pessoas que querem ou precisam ser ouvidas.

Lembrando que o atendimento é sigiloso e você pode optar por telefonar, enviar um email ou conversar pelo chat

O CVV está presente nas redes sociais trabalhando na produção de conteúdo informativo e educativo para você acompanhar e ficar por dentro dos assuntos abordados. 

É possível também procurar auxílio nas Caixas de Assistência dos Advogados (CAA), cada estado possui o seu órgão de assistência. O profissional do direito poderá verificar a possibilidade de utilizar os benefícios como os programas e ações de saúde mental, tratamentos psicológicos ou psiquiátricos e atividades de esporte ou lazer. 

Entre em contato com a OAB da sua região e saiba mais sobre o CAA.

Nota da equipe LSD: esperamos com este artigo ampliar os debates e as possibilidades de ação sobre um tema que há muitos anos vem causando prejuízos à centenas de pessoas e, por consequência, ao ambiente de negócios e a toda sociedade.

plugins premium WordPress