Photo by David Clode
Em meio às montanhas nevadas de Utah, no ano de 2001, o reconhecido programador Tio Bob (ou Robert Cecil Martin) conseguiu reunir um grupo de 17 dos melhores profissionais da área para discutirem novos métodos para desenvolvimento de softwares, com uma abordagem mais leve e menos burocrática. Foi assim, em um resort de ski, que surgiu o Manifesto Ágil.
“Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas
Software em funcionamento mais que documentação abrangente
Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
Responder a mudanças mais que seguir um plano
Ou seja, mesmo havendo valor nos itens à direita, valorizamos mais os itens à esquerda.”
VALORES DO MANIFESTO ÁGIL
Em uma rápida revisão, as equipes ágeis fragmentam os problemas complexos em módulos e trabalham no desenvolvimento da solução para cada um desses componentes, por meio de prototipagem rápida permeada por ciclos constantes de feedback. Ao final, as soluções modulares são integradas, com coerência, ao todo. As equipes são squads pequenos e multidisciplinares que trabalham focados em valorizar mais a adaptação à mudança do que a adesão a um plano, visando muito mais resultados (crescimento, lucratividade e fidelidade do cliente) e menos produtos (como linhas de código). Os fatores citados criam um ambiente mais propício à inovação durante a busca pelo aprimoramento de produtos, serviços, processos ou modelos de negócios.
Para entender melhor o Agile, assista ao vídeo da Harvard Business Review: “A Quick Introduction to Agile Management “
E sobre esse poder de inovação, também sugerimos o artigo Agile at Scale, publicado no Harvard Business Review e assinado por Darrel K. Rigby, Jeff Sutherland e Andy Noble.
Método Ágil para além da tecnologia
Nas quase duas décadas que se passaram desde a criação do manifesto, diferentes metodologias foram colocadas em prática e o Agile (ou agilismo) cresceu, deixando de ser uma pérola exclusiva aos olhos da área de TI. Um estudo feito em 2015 com 174 gerentes de projetos, aponta que 48% deles utilizam soluções de agilismo para trabalhos de áreas não relacionadas a TI.
Hoje, sabemos que o jurídico também tem aproveitado dos benefícios desse método para dar suporte às necessidades de negócios de seus clientes e gerenciar fluxos de trabalho tanto dentro de empresas como em escritórios de advocacia. Ainda assim, é preciso manter a consciência de que a metodologia Ágil não é, por si só, uma panaceia.
Segundo uma das pioneiras na aplicação do Agile em departamentos jurídicos, Roya Behnia, se existisse um Manifesto Ágil elaborado por advogados, traria valores como:
● COLABORAÇÃO CONTÍNUA COM OS CLIENTES;
● COMPROMISSO COM FLEXIBILIDADE E RAPIDEZ;
● COMUNICAÇÃO DIRETA EM VEZ DE DOCUMENTAÇÃO COMPLEXA;
● FOCO CONTÍNUO NOS OBJETIVOS DO CLIENTE;
● MAIOR REALISMO NA AVALIAÇÃO DE RISCOS;
● E UM FORTE VIÉS PARA A SIMPLICIDADE.
Assim, além da expertise jurídica, advogados que trabalham com essa abordagem colaborativa, flexível e ágil também precisam fortalecer suas habilidades e competências comportamentais, tais como: comunicação, liderança, resiliência, trabalho em equipe e criatividade (as chamadas soft skills).
Quando aplicar o Agile no Jurídico
Um artigo publicado pela Gartner, destaca quatro aspectos que precisam ser observados antes de iniciar um projeto utilizando a metodologia ágil:
1. Este trabalho pode receber inputs adicionais do cliente?
Um projeto ágil é mais proveitoso quando há flexibilidade para incorporar as necessidades contínuas do usuário final ao longo do processo, conforme elas se tornem mais claras. Assim, é importante que o squad receba feedbacks consistentes com atualizações sobre o objetivo final do projeto.
Por exemplo, no desenvolvimento de um modelo de contrato, é essencial que as partes interessadas, de diferentes áreas, contribuam com informações específicas para garantir que todas as suas necessidades sejam atendidas. Assim, o squad do projeto deve fornecer algumas cláusulas iniciais a vários parceiros de negócios para buscar feedback imediato sobre os termos, o que provavelmente resultará em uma série de ajustes.
2. O objetivo final está claro?
Identificar um escopo claro do que precisa ser produzido desde o início é fundamental, mesmo que os detalhes sejam determinados por meio de iteração. Isso permite que a equipe divida o produto final em tarefas distintas (essencial para aplicação do método), defina prazos e identifique os recursos necessários em termos de expertise.
Criar uma política da empresa, por exemplo, pode ser um bom projeto para a aplicação da metodologia Ágil. Nesse caso, já é possível imaginar a presença de um advogado trabalhista ou de um compliance officer. Também fica mais simples imaginar uma fragmentação do projeto em componentes, permitindo que diferentes especialistas trabalhem em diferentes aspectos da Política ao mesmo tempo.
3. O projeto requer múltiplas fontes de conhecimento?
A especialização nas organizações jurídicas geralmente é isolada por unidade de negócios ou área de atuação. E, por mais que se diga que tem visão de cliente, fato é que continuam sendo áreas fechadas na maioria dos lugares. No entanto, cada vez mais, os limites dos silos são cruzados com iniciativas de modelos mais abertos ou negócios digitais (veja nosso artigo Jurídico e Tecnologia: de onde viemos e para onde vamos). O Agile é uma boa opção para projetos mais complexos que exigem o envolvimento de várias fontes de conhecimento de áreas diversas da organizacão. Já é possível observar os advogados corporativos participando das reuniões de desenvolvimento do novo produto ou de o designer ou “o (a) cara da TI” ser convidado a fazer uma facilitação. Até então o mais usual era o caso do contador ou auditor trabalhando em conjunto com os advogados.
4. É possível dividir o trabalho em componentes gerenciáveis?
Para serem eficazes, as organizações jurídicas devem identificar projetos que possam ser divididos em tarefas menores e distintas, como citamos anteriormente.
Se você concluir que as respostas para esses quatro pontos de reflexão são positivas, então está diante do melhor ambiente para trabalhar com o método Ágil.
Dica: não perca a oportunidade de aprender fazendo! A Future Law vai promover o curso Gestão Jurídica Ágil no dia 22/10. Inscrições: clique aqui.
É preciso avaliar e adaptar
Seja com post-its na parede ou utilizando o mais sofisticado software, a abordagem Ágil só terá uma vida longa se realmente funcionar para o time e entregar resultados. Assim, é essencial avaliar a composição da equipe, o perfil de trabalho, as exigências das partes interessadas e até as políticas da empresa, antes de escolher abordagens e adaptar o método Ágil às necessidades do seu negócio.
Você vai saber que está no caminho certo quando:
● O número de projetos problemáticos diminuir;
● Os profissionais estiverem trabalhando de forma confortável após as alterações da abordagem Ágil, com carga horária distribuída uniformemente e com condições claras de remuneração;
● Aumentar a transparência na comunicação interna, de forma que cada profissional entenda como o seu trabalho afeta os projetos.
Quer se aprofundar no mundo da inovação e entender melhor como o seu departamento jurídico ou o seu escritório de advocacia pode se beneficiar trabalhando de forma mais ágil? Vamos falar sobre isso?