Coletivo LSD, com reportagem de Nathalia Soares
O ano ainda era 2013, quando já previa Richard Susskind em sua obra Tomorrow´s Lawyers:
O professor sugere que as mudanças socioeconômicas ocorridas entre a segunda metade do século XX e início do século XXI alterariam quase que completamente a forma de prestação e contratação de serviços jurídicos, apontando três principais fatores impulsionadores dessas mudanças:
1) a tecnologia;
2) a liberalização, caracterizada pela crescente autorização de prestação de serviços jurídicos por não-juristas e empresas – os chamados Alternative Legal Service Providers –;
3) o desafio do “mais por menos”, com clientes demandando serviços de maior qualidade por um menor preço.
Em resposta às novas exigências do mercado, os escritórios e departamentos jurídicos vêm buscando formas de otimizar seus processos e ganhar eficiência, valendo-se de ferramentas tecnológicas, valorizando a interação com outras áreas e adotando um papel mais ativo na gestão estratégica dos negócios.
Nesse contexto, em que os departamentos jurídicos passam a ser vistos como áreas estratégicas, surge o legal operations (ou legal ops), assumindo atividades operacionais que antes eram de responsabilidade do departamento jurídico. Assim, a área de prática jurídica pode entregar um serviço de maior qualidade e com mais eficiência, atendendo às exigências do mercado atual.
Mas o que exatamente é legal operations ?
O legal operations surgiu com o principal objetivo de maximizar a eficiência e a qualidade dos serviços jurídicos. Assim, cuida das atividades operacionais fundamentais para um escritório ou departamento jurídico que não envolvam a prática jurídica em si, como gestão de pessoas e processos, planejamento orçamentário, finanças, tecnologia e analytics.
Uma pesquisa global feita pela Gartner revela que desde 2018 a contratação de profissionais de legal operations nos departamentos jurídicos cresceu 76%!
Além de tornar as operações mais eficientes, o legal operations aproxima o jurídico das outras áreas e do core business, na medida em que permite ao departamento jurídico demonstrar seu valor e contribuir com dados relevantes para a tomada de decisões estratégicas do negócio.
Implantando a área
Apesar da realidade ser diferente para cada escritório ou departamento jurídico, o Corporate Legal Operations Consortium (CLOC)[1] define 12 grupos de competências essenciais para o legal operations, as denominadas CLOC Core 12:
Contudo, ao se iniciar o processo de implantação da área, deve-se ter em mente que não é possível fazer tudo ao mesmo tempo. Paulo Silva, Gerente de Legal Operations do Mercado Livre, recomenda que a escolha de uma área por onde começar seja feita a partir da análise de dois elementos combinados: eficiência e economia.
Ou seja, deve-se identificar nichos de ineficiência de operações e onde o dinheiro está sendo mal empregado. A partir daí, o legal operations pode rever e automatizar processos, buscando escalabilidade.
Paulo destaca também a importância de um plano de implantação com etapas bem identificadas e Key Performance Indicators (KPIs) bem definidos, para que, assim, a empresa possa avaliar se está no caminho certo.
O que diz quem vive o LegalOps na prática
O mercado jurídico também é impactado pela transformação que a indústria tem sofrido nos últimos tempos. O mundo hoje é data driven, e o foco é na experiência dos clientes, sendo mais do que necessário que os escritórios e departamentos jurídicos adotem mudanças que permitam a entrega de serviços jurídicos de melhor qualidade, com maior rapidez e menor custo.
E o legal operations parece ser a solução para a grande maioria das empresas, que vêm estruturando a área em ritmo acelerado. Pesquisa feita pela Thomson Reuters em junho de 2020, com 223 departamentos jurídicos, incluindo 81 empresas da Fortune 100, constatou que 81% dos entrevistados já estruturaram o legal operations, representando um salto de 24 pontos percentuais em comparação à pesquisa feita no ano anterior.
Sobre a experiência com o legal operations na Cyrela, a Diretora Jurídica, Rafaella Carvalho Corti, comenta:
Essa mudança na forma como os serviços jurídicos são entregues provocou também uma alteração no perfil dos profissionais que atuam na área. O profissional de legal operations não necessariamente tem formação em Direito, sendo mais demandado por suas habilidades em tecnologia, análise de dados, gerenciamento de projetos, conhecimento de negócios, gerenciamento de riscos e design thinking.
Paulo Silva destaca que a área de legal operations está em construção, e que o profissional da área tem sempre que estar antenado para as inovações tecnológicas e para ouvir seus clientes. E conclui:
No vídeo abaixo, você pode assistir ao depoimento de outros gestores pelo mundo que já adotaram o Legal Ops:
O legal operations é uma realidade que vem evoluindo de forma rápida no mercado jurídico. Não se adaptar a essa realidade é, definitivamente, uma desvantagem competitiva no mundo atual. Você está pronto?