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Jurídico e Tecnologia: de onde viemos e para onde vamos

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Entre 2008 e 2018 tivemos uma década disruptiva no mercado mundial. O ranking global da revista Fortune, com as 100 maiores empresas segundo suas receitas, ilustra bem as mudanças socioeconômicas desse período. A China ganhou mais força, suas empresas desbancaram europeias e agora disputam com as norte-americanas. Entre as companhias que integram a lista consolidada no ano passado, 43 não constavam no grupo das maiores de 2008 e embora a maioria das corporações seja dos setores financeiro e energético, especialmente no topo do ranking, houve uma queda no número de empresas com essas atividades. Enquanto isso, quem cresceu e conquistou seu espaço foram as gigantes da tecnologia. O crescimento de algumas das novatas na lista como Amazon ou Huawei, foram menos surpreendentes do que outras como Microsoft ou Apple, por exemplo, que há dez anos ocupava a posição 337 em receita global e hoje está em 11º lugar.

Dentro desse cenário macro da ascensão tecnológica, estão as minúcias do impacto das novas ferramentas na geração de valor para o mundo dos negócios. Nesse ponto, podemos traçar um paralelo com a evolução dos departamentos jurídicos, que em uma década incorporaram aspectos de gestão e ampliaram sua participação dentro das organizações. Se antes a área legal era vista exclusivamente como uma fornecedora de pareceres jurídicos, revisora de contratos e aquela que cuidava dos processos judiciais, hoje já tem uma atuação ampla nas companhias e é um importante diferencial estratégico para o desenvolvimento dos negócios ー característica que deve tomar uma dimensão ainda maior com o impulso da tecnologia, que ainda está em fase de maturação no ramo jurídico nacional.

ERA ASSIM…

Photo by Tiago Muraro

Em 2008, na primeira edição do levantamento Annual Law Department Operations, feito pelo Blickstein Group, entre os heads de operações legais que participaram da pesquisa, seis em cada dez citaram uma “nova iniciativa tecnológica” como uma das três principais razões pelas quais sua posição foi criada e nove em cada dez deles eram os responsáveis por determinar as prioridades dentre os projetos de tecnologia. Quando questionados sobre os desafios enfrentados, as principais respostas estavam relacionadas com a necessidade de comprovar o valor da posição que ocupavam: identificar oportunidades de melhoria de negócios e redução de custos; mostrar valor da posição para a corporação; obter financiamento para fazer projetos dentro do departamento; ganhar o respeito dos advogados; e comunicar-se com sucesso com o conselho geral. 

Dez anos depois, os diretores parecem ter provado o valor de seu trabalho e conquistado o direito de comprar as ferramentas que julgam necessárias. Na última edição da pesquisa, 71% dos entrevistados disseram ter acesso à tecnologia certa para fazer seu trabalho – em 2014 eram apenas 54%. A essência dos maiores desafios também mudou e, nesta nova fase, a tecnologia tem uma capacidade muito maior de promover a superação dos obstáculos. São eles: implementar novas diretrizes para mudança de direção; identificar oportunidades de melhoria de negócios e redução de custos; conter custos; gerenciar o conselho externo; obter financiamento para projetos; e lidar com questões de conformidade. Ainda assim, o apoio tecnológico não representa um sucesso anunciado. A realidade atual das organizações demanda novas funcionalidades e a percepção média é de que atingir a eficácia está mais difícil. A exemplo, as ferramentas de gestão de contratos foram avaliadas com nota média de 5,4 numa escala até 10. 

E AGORA, PARA ONDE VAMOS?

Tecnologias disruptivas, uma nova prestação de serviços jurídicos e o crescimento das operações legais. São esses os pilares que devem sustentar os departamentos jurídicos do futuro – cujos primeiros passos já estão sendo dados. No relatório “O departamento legal do futuro: como as tendências disruptivas estão criando uma novo modelo de negócio para o jurídico interno”, elaborado pela Deloitte, esses três aspectos são evidenciados.

Photo by Stephan Sorkin

O ponto de partida comum para os que desejam fazer parte deste novo momento tem sido a adoção de ferramentas de automação, enquanto muitos núcleos jurídicos ainda contam com processos manuais e documentação em papel. Mas, uma vez que esta primeira etapa estiver estabelecida, o que vem depois? A expectativa é que a inteligência artificial faça parte da próxima onda de transformação.

Longe do terror onde máquinas substituem humanos, a ideia é que o departamento jurídico do futuro possa contar com a inteligência tecnológica no apoio a tarefas jurídicas, fornecendo algum tipo de prognóstico assistido. Isso, por enquanto, ainda não é uma realidade plena ー devido às dificuldades que ainda envolvem o período de machine learning ー, mas é uma realidade eminente. 

Considerando que estamos rumo ao data-driven, a mais interessante das novidades na área é a aplicação de analytics. Já existem plataformas que começam a oferecer às organizações maneiras de visualizar e avaliar dados sobre seus gastos e operações, possibilitando uma melhor gestão de fornecedores e uma maior identificação de pontos de melhoria operacional. O que vem a seguir é o uso de data analytics para análises preditivas, uma revolução no posicionamento da área jurídica dentro das organizações.

Essas evoluções tecnológicas proporcionam uma revolução na prestação de serviços jurídicos. No futuro, os departamentos jurídicos devem se distanciar do modelo de silos e se aproximar de uma atuação centralizada, onde as empresas poderão optar por ter uma unidade central com capacidade de prestar serviços globalmente. E mais, área jurídica como uma geradora de lucro ao invés de um centro de custos pode começar a se tornar realidade, a depender das questões regulatórias. Isso mesmo, áreas jurídicas prestando serviços para outras empresas, concorrendo com os escritórios e outras ALSP (alternatives legal services providers – serviços jurídicos alternativos).

(Sobre o assunto, veja aqui matéria sobre a British Telecom.)

Photo by Niklas Hamann

Ainda segundo o estudo, legal operations deve emergir surfando na onda das novas tecnologias e dos novos modelos de prestação de serviços jurídicos. Profissionais de operações, advogados ou não, já podem ser encontrados com mais frequência do que antes nos departamentos jurídicos corporativos. Além de aumentarem o papel da gestão do conhecimento no setor, eles trabalham para uma maior segmentação na atuação do jurídico, atendendo melhor às necessidades do business da empresa.

Além disso, os métodos ágeis de gestão de projetos, o design como forma de resolver problemas e/ou capturar oportunidades e o foco na experiência dos clientes internos e dos membros do Judiciário (petições com uso de design da informação, por exemplo), começam a ser incorporados no universo jurídico, e seguem como forte tendência para os próximos anos.

Enquanto ainda não estamos lá, no futuro, é preciso ter em mente que muitos departamentos jurídicos já estão construindo a estrada que querem percorrer, determinando desde já a forma como abraçam as inovações na área. Afinal, é como dizem: a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.


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