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O futuro dos serviços jurídicos na visão de 5 líderes

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Coletivo LSD, com reportagem de Nathalia Soares

Estamos testemunhando um momento histórico, de mudanças sem precedentes na prestação de serviços jurídicos. O avanço exponencial da tecnologia, a mudança geracional dos profissionais, o aumento da quantidade de prestadores de serviços jurídicos alternativos e o desafio de ganhar eficiência são apenas alguns dos fatores que têm impulsionado esse fenômeno.

 No relatório The legal department of the future, a Deloitte identifica alguns outros agentes causadores de mudanças, e apresenta uma visão sobre como serão estruturados os departamentos jurídicos do futuro:

A pesquisa conclui que “o futuro é agora”, e que os prestadores de serviços jurídicos são responsáveis por determinar seus destinos e decidir se (e como) abraçarão inovações tecnológicas, novos modelos de prestação de serviços e maior eficiência operacional.

 Os caminhos traçados no Brasil

Convidamos alguns líderes, homens e mulheres, que acompanham essas tendências e estão à frente de projetos inovadores no universo jurídico brasileiro, e perguntamos a eles: “Como você imagina a prestação de serviços jurídicos nos próximos 10 anos?”. Veja a seguir as respostas!

Vejo duas mudanças principais na prestação de serviços jurídicos. A primeira se refere a uma aproximação entre o contencioso estratégico e de volume. O contencioso estratégico vem sofrendo uma pressão cada vez maior por preço, se tornando um pouco menos artesanal e passando por uma comoditização. Na outra ponta, o contencioso de volume tem sido mais demandado a entregar um serviço customizado e estratégico, atuando com inteligência e tecnologia.

Assim, no futuro, penso que não haverá essa segmentação entre contencioso estratégico e de volume. São duas vertentes que se unificarão, pois precisamos tratá-las da mesma forma: com baixo custo, inteligência, diferencial competitivo e eficiência.

A segunda mudança se refere às habilidades dos advogados. Vejo no futuro, e talvez até no presente, uma nova classe que vai dominar o mundo do direito, que são os advogados que entendem de desenvolvimento e programação. Não necessariamente a ponto de programar códigos e desenvolver sistemas, mas que sejam bem imersos nesses temas e entendam bastante para conseguir comunicar à área de desenvolvimento e tecnologia aquilo que eles precisam dentro da área deles.”

Guilherme Marchi, advogado e superintendente operacional do Grupo Barcelos


“A evolução tecnológica já afetou quase todos os setores da economia e ramos de atuação. No direito, isso não será diferente. A enorme resistência que os advogados oferecem a essa disruptiva mudança, entretanto, é resultado da característica mais antiquada desse tipo de profissional (em sua esmagadora maioria). No entanto, a mudança de paradigma é evidente e irá impactar, sem sombra de dúvidas, a atividade do advogado e sua atuação perante os seus clientes.

A tecnologia promoveu duas principais modificações na atuação do advogado:

  1. deixou o conhecimento à disposição e de fácil acesso a todo e qualquer profissional; e
  2. possibilitou a automação e aceleração do trabalho mecânico, que tomava muito tempo dos profissionais.

Antigamente, o bom advogado era aquele que tinha conhecimento jurídico na ponta da língua e executava com primor a elaboração das peças processuais e instrumentos contratuais. A tecnologia, entretanto, facilitou o acesso ao conhecimento jurídico e mitigou erros mecânicos em elaboração de documentos e peças processuais, fazendo com que até mesmo os leigos em direito pudessem se tornar “bons advogados”.

Atualmente, um advogado moderno é aquele que oferece um serviço jurídico eficiente, possui visão de negócio, atua ao lado do cliente criando soluções inovadoras para seus problemas. Nada mais atual do que a frase proferida pelo renomado banqueiro J. P. Morgan, no final do séc. XIX, ao dizer:

“Eu não quero um advogado para me dizer o que posso fazer. Eu o contrato para me dizer como fazer o que eu quero fazer”.

No futuro, vejo duas possibilidades. A primeira delas é a especialização de advogados para terem atuações mais próximas a de designers, engenheiros e arquitetos, e não somente a especialização em áreas de conhecimento do direito. A segunda é a abertura de oportunidades para esses profissionais de outras áreas nas bancas de direito.

 O bom advogado não deverá somente apresentar a melhor técnica jurídica – que é o mínimo que se espera com o avanço da tecnologia e a ampliação do acesso à informação -, ele deverá também oferecer engenharias societárias criativas e inovadoras, relatórios visuais, dashboards e contratos modernos. Isso o advogado de hoje em dia não está pronto para oferecer. Esse é o caminho que devemos seguir e evoluir.”

Lucas Kalil, sócio da Kalil & Salum


“Cada vez mais a tecnologia dá o suporte necessário para os advogados e departamentos jurídicos agirem com maior celeridade na análise de dados e tomada de decisões.

No futuro, a tecnologia absorverá outras atividades que hoje são executadas por pessoas. Mas, definitivamente, não imagino que nos próximos 10 anos os advogados sejam substituídos. Ao mesmo tempo em que algumas atividades ficarão obsoletas e deixarão de existir no mercado, com o avanço da sociedade e das relações humanas, outras necessidades surgirão. O advogado é imprescindível para conferir pessoalidade às relações, atuando como mediador e trazendo segurança.

Então, indo na contramão de algumas opiniões, penso que a advocacia está no topo das profissões do futuro, porque as relações humanas e empresariais dependem da segurança que os advogados são capazes de conferir. A profissão não vai acabar, mas o advogado precisa se manter atualizado, para ser capaz de executar com segurança as novas atividades que surgirão e, assim, entregar o que o cliente precisa.”

Mariana Lamounier, gerente jurídica da Pottencial Seguradora


“O mercado jurídico passa por grandes transformações, seja na forma como os clientes buscam as entregas dos serviços advocatícios, seja na abordagem necessária para a correta comunicação com os agentes envolvidos, sejam eles os próprios clientes, os juízes e seus assessores ou até mesmo os advogados.

A comunicação jurídica ao longo dos anos foi o reflexo de uma linguagem que buscava, em última análise, o distanciamento da forma efetiva de comunicação, onde a compreensão é ampla e acessível a todos. Se valoriza a linguagem quase incompreensível ao homem médio e torna o operador do direito um agente indispensável, pois apenas eles compreendiam o que eles mesmos diziam.

Acredito que essa forma de linguagem afastou dos necessários debates pessoas que poderiam contribuir em muito para a solução de lígios e problemas.

Outro ponto de reflexão deve ser que os operadores do direito buscavam se cercar de doutrinas, leis e pareceres cuja leitura era um verdadeiro martírio com o intuito exclusivo de demonstrar conhecimento ou justificar uma conclusão que, na maioria das vezes, não apontava a posição a ser tomada, deixando os clientes sem saber, diante de tanta e complicada informação, qual seria a melhor decisão ou risco que deveria ou poderia assumir.

Com tal forma de abordagem, muitos deixaram de recorrer a operadores do direito por entender que estes não auxiliavam, mas dificultavam ainda mais a tomada de decisões ou a visão correta dos riscos que podiam ou deviam ser tomado.

Ao ver a revolução do mercado jurídico, acelerado por um grupo embrionário de pessoas que preferiram desafiar o status anterior e pensar a advocacia como uma necessária mudança de abordagem, vejo hoje algumas mudanças que já demonstram presentes e aceitas pelo mercado, clientes e sociedade.

A vestimenta que era um sinal de diferenciação vem sendo colocada de lado. Gravatas já são raridade fora dos tribunais e até dentro de alguns. Uma singela mudança dotada de grande significado. Junto com a queda ou desuso da vestimenta, alinhou-se ao mercado uma necessária abordagem mais direta.

O uso de linguagens menos argumentativas e mais conclusivas passou a ser não apenas uma tendência, mas um exigência por parte de julgadores que não conseguiam mais se debruçar na leitura de inúmeras páginas e um crescente acervo de processos.

Os clientes, insatisfeitos com a falta de parcialidade ou posicionamento dos seus assessores passaram a exigir pareceres mais objetivos, curtos e compreensivos, documentos capazes de serem entendidos por si só e sem a necessidade de apresentações e esclarecimentos adicionais. Posicionar e assumir riscos é uma exigência cada vez mais frequente e um diferencial para aqueles que já assimilaram a nova forma de prestação de serviços jurídicos.

A tecnologia que antes se resumia a PC’s, impressoras e e-mail, passa a frequentar a cada dia mais a rotina dos profissionais. Outras formas que não as escritas começaram a aparecer. Apresentações em PPT, Power BI, Visual Law, Legal Design, números, indicadores, metas, entendimento econômico-financeiro são rotinas que, se ainda não assimiladas pelos profissionais, os mesmos certamente estão ficando para trás.

 A virtualização do mercado, a rotina empresarial dinâmica, o mundo VUCA que estamos inseridos certamente vem modificando a advocacia de uma forma muito rápida e dinâmica. Hoje, é comum se ver cientistas de dados, designers gráficos e até mesmo publicitários compondo times que antes eram exclusivamente compostos por advogados e juízes.

Buscar uma previsão de como serão os próximos 10 anos em um mundo dinâmico que se modifica, cria e recria tudo a cada dia o hora é certamente um exercício de futurismo ou simplesmente “chute”.

Acho mais fácil pensar em como não serão os serviços jurídicos nos próximos 10 anos. Certamente NÃO será:

1) Realizado por pessoas que se preocupam mais com a aparência e vestimenta do que o serviço que está sendo realizado;

2) Sedimentado em uma linguagem afastada da compreensão do homem médio, cheia de argumentações e sem qualquer organização lógica;

3) Apresentada em forma de texto corrido em páginas e páginas que ao final ninguém irá ler;

4) Feita sem o amparo de indicadores, métricas e jurimetria que possibilitará uma análise estatística de tendências ou previsibilidade;

5) Feita sem o entendimento de que o posicionamento é determinante para que o serviço seja prestado. A pergunta a ser respondida é: Qual a melhor forma de fazer algo, quais os riscos inerentes e na sua opção qual é a melhor opção a ser tomada;

6) Os serviços burocráticos e repetitivos feitos por pessoas, mas por máquinas;

7) Definida pela localidade onde o serviço será prestado, mas por uma comunidade que pode estar em qualquer parte do planeta, falando qualquer língua.

São apenas crenças próprias que muitos podem ler e acreditar que elas são a defesa de alguém que não quer se aprofundar e ser raso ou superficial. Contudo, entendo que para ser simples e objetivo é necessário um background de conhecimento. É muito mais fácil esconder a fragilidade dentro de uma argumentação externa e incompreensível do que em uma linguagem direta e objetiva. Ser direto e objetivo jamais pode ser considerado como ser raso, mas sim ser eficiente na argumentação, qualidade essa que nós, operadores do direito, perdemos ao longo dos anos.”

Thiago Lott, sócio da Lott Advocacia


“Imagino que em 10 anos a tecnologia será uma realidade mais presente nos departamentos jurídicos e escritórios de forma tornar mais eficiente e ágil o trabalho jurídico.

Como cliente, espero que a qualidade dos serviços a serem prestados pelas empresas tecnologia esteja mais amadurecida, tendo em vista que hoje o que é prometido ainda não é entregue por tais empresas.

 Acredito que a inteligência artificial será uma realidade. Hoje, da mesma forma, empresas que prometem aplicação de inteligência artificial não a entregam.

 As áreas de Legal Operations serão realidade nas empresas, com uma ampla diversidade de profissionais, com variedade de formação acadêmica e uso de tecnologia.

Finalmente, acredito que a formação dos advogados será mais ampla. Imagino que o currículo das universidades incluirá matérias como estatística, gestão de processos e tecnologia.”

Yve Carpi de Souza, diretora jurídica na Raízen


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